quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Há exatos 10 anos (Parte 1)


Há tempos não venho aqui, mas esta data vale um post.



Depois de amanhã (dia 6) completo uma década de Holanda. Mas amanhã, fazem exatos 10 anos que eu partia rumo à tamancolândia.

E este dia fatídico, que pra mim parece que foi ontem, continua claro na minha lembrança.

Começo pelo dia 2 de novembro, 3 dias antes do vôo... uma panela de óleo esquecida no fogo pelo meu pai, quase causou um incêndio. Acordei com os olhos ardente, e sentindo um cheiro forte de fumaça. Corri na cozinha e me deparei com um cenário assustador... a cozinha totalmente preta, destruída pela fumaça... o gás ainda ligado, a lampada da cozinha ainda acessa mas apenas presa por um fio já desmanchando e desencapado. Corri ao fogão e desliguei o gás. Depois desliguei a lâmpada e corri pra chamar meu pai.

Fora a cozinha da minha casa que ficou literalmente pintada de preto, e a casa saindo fumaça por todos os orifícios, também minhas roupas, já separadas pra viagem, e que se encontravam sobre uma mesa (e infelizmente não protegidas numa gaveta), ficaram infestadas com o cheiro da fumaça.

O quase acidente ficou por aí... mas os dias que se sucederem foram de limpesa geral, na casa, roupas, etc.

Depois de tudo mais ou menos em ordem, na noite do dia 4 recebi a visita de amigos que vieram se despedir e desejar boa viagem. Pessoas queridas que vieram me abraçar e me fazer um grande bem. Mal sabem elas o quanto isto significou pra mim. O choro de uma amiga querida na última despedida já na porta da rua... quase me fez cair da muralha que eu vinha criando pra ser forte nos próximos dias que se seguiriam. (Amo esta pessoa e ela sabe disto!)

A última noite na casa dos meus pais (e realmente foi a última pq eles se mudaram pouco depois da minha partida) não foi na minha cama, nem mesmo no meu quarto. Aliás, nem em um quarto foi. Foi na área coberta do andar de cima... num colchão no chão junto com a minha irmã. Foi assim nossa despedida... conversando até cair no sono, já com as luzes apagadas, tentando não pensar muito na distância que iria nos separar a partir do dia seguinte.

Sinto falta de muitas coisas, como por exemplo da casa onde moramos por mais de 18 anos. Esta casa que eu amava e que hoje não nos pertence mais. Mas é ainda a casa que insiste em aparecer em TODOS os meus sonhos... como se eu nunca tivesse morado em outro lugar. Lá morei dos meus 5 aos 23 anos. E mesmo estando há 10 anos aqui... JAMAIS em meus sonhos eu apareço / apareci estando aqui na Holanda. Coisa que eu nunca entendi. Mas que também já cansei de tentar entender. Aceitei a minha dependência do meu passado... e procuro viver bem com ela.

O dia 5 de novembro foi pra mim de muito stress, tristeza, novidade, ansiedade, medo e expectativa.

Acordei 5:30 da manhã e o mundo parecia vir abaixo de tanto que chovia. Deu aquele nó na garganta, uma sensação estranha, mas que eu acreditei que fosse pela ansiedade da viagem. Um amigo do meu pai ia nos levar ao aeroporto. Eu sabia que era a escolha errada, mas eu não quis interferir, contrariar.

O caminho pro aeroporto estava quase intransitável. Muita água, caos, e a sensação de que isto não ia acabar bem, aumentava a cada minuto. De repente mais uma escolha errada: Cortar camiho, saindo da rodovia e indo pelos bairros. Foi então que o que estava ruim ficou ainda pior... o carro simplesmente não pegava mais... e chegar ao aeroporto naquele carro não ia mesmo acontecer.

Com o trânsito confuso, a chuva e todo o caos, já estavamos atrasados. Eu deveria estar as 7 da manhã no aeroporto... mas as 7:20 o carro quebrou e eu ainda estava longe do mesmo.

Desesperei... chorei muito. Meu pai saiu procurando uma solução. Minha mãe e minha irmã tentavam me acalmar. Minha irmã me prometeu que eu chegaria a São Paulo ainda naquele dia, e que eu tinha que acreditar nisto.

Após uns 15 minutos meu pai apareceu dizendo que convenceu um rapaz da vizinhança lá onde estavamos a nos levar até o aeroporto. Ele pagaria o rapaz por isto claro... e lá fomos nós, debaixo de chuva transferir as malas de um carro pro outro e tentar chegar a tempo pro vôo.

O vôo estava marcado pra 8:10 e eu cheguei no check in da Varig as 8:00 em ponto... chorando e pedindo pelo amor de Deus pra me deixarem embarcar, que o carro quebrou no caminho, etc etc. O moço disse pra eu correr lá pra cima pq o portão já ia fechar. Malas embarcadas, passagem ok... lá fomos nós 4 correndo pelo aeroporto. Chegando no portão de embarque nem tivemos tempo pra nos despedir direito (eu penso que foi melhor assim, pra eles e pra mim também). Um abraço apertado em cada um dos 3. Desejo de boa sorte, boa viagem, seja feliz. E claro, nos ligue quando chegar em São Paulo (e qdo chegar em Londres, e quando chegar na Holanda).

E lá estava eu, dona do meu rumo, do meu destino. Uma mistura de medo e expectativa. A sensação de liberdade e de abandono ao mesmo tempo. Um medo absurdo de causar sofrimento e saudade naquelas 3 pessoas que tanto amo.

Mas eu parecia meio em choque, enquanto passava por todos os procedimentos (pela primeira vez na minha vida) de vôo. E só chorei mesmo já dentro do avião, quando da janelinha avistei lá no terraço do aeroporto 3 pessoas dividindo um guarda-chuva... tão ao longe que era quase impossível os reconhecer. Mas eu sabia que eles iriam pra lá. Não havia mais ninguém no terraço, só os 3, debaixo de um só guarda-chuva, olhando praquele avião da Varig na pista, se preparando pra levantar vôo e levar consigo alguém que eles amam muito. E este alguém que também os ama imensamente, foi olhando pra eles enquanto foi possível, com lágrimas nos olhos, no rosto, na roupa. Sentindo saudade e culpa ao mesmo tempo.

Cheguei em São Paulo as 9 da manhã e lá ficaria até as 18 horas... horário do vôo pra Londres (e depois Amsterdã). Foi um dia longo. Andei, li, fiz compras, lanchei, andei, li, andei, lanchei... Mas ao anoitecer eu já estava novamente em um avião, prestes a sair do meu país pela primeira vez.

Estava tão cansada que depois do jantar, dormi, e só acordei quando o avião já ia pousar em Londres...

(este baú de memórias continua a ser aberto depois de amanhã, dia 6, dia dos 10 anos da chegada na Holanda)

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Futebol, religião e política não se discute

Não é o que aconselham? E eu concordo, pois acho que estes assuntos são cheios de polêmicas e geralmente a pessoa já vem com a opinião formada desde a infância, se tornando assim quase um ideal de vida... isto vale principalmente pros assuntos futebol e religião. Já com a política a coisa é mais volúvel, variável, inconstante e depende muito dos acontecimentos atuais. O assunto política é discutível, desde que se trate de uma discussão saudável, respeitosa e dentro dos limites.

Este ano tem eleição. Em menos de 2 semanas o Brasil irá às urnas. Já eu não votarei, pois não transferi meu título pra Holanda ainda. Não é falta de interesse com a política do país, mas é uma viagem de 3 horas até Rotterdam. Um dia ha cada 4 anos, eu sei... mas enfim... talvez um dia eu transfira o título pra cá. Vai ver vivo com a esperança (louca e sem razão) de voltar a morar no Brasil. Algo que quero demais e ao mesmo tempo não quero nem um pouco. Uma guerra interna onde os interesses dos meus filhotes ganham sempre. Portanto, até segunda ordem, fico.

Eu assisto os acontecimentos em torno as campanhas eleitorais de longe. Leio os sites de notícia, procuro me informar. Sinto que o clima está fervendo, e o assunto é apenas este no momento... Dilma x Serra. Ou seria PT x PSDB?

Eu tenho minha opinião pessoal a este respeito e talvez muita gente discorde, mas é como eu vejo. Baseio minha opinião de forma geral e ignoro os escândalos no atual governo, pois todo governo tem seus escândalos e suas bandas pobres.

Na minha opinião o PT governa priorizando a população de baixa renda, por isto o Lula se reelegeu e provavelmente vai colocar uma sucessora no poder. Claro que o ideal é um governo que trabalha igualmente pra todos, mas a realidade é que o Brasil é um país totalmente desigual, onde a classe baixa é enorme e realmente pobre e a classe alta é pequena e realmente 'alta'.... o que fica no meio (classe média, média alta) sofre em alguns momentos e é priorizado em outros. Eu estou mais proxima da classe menos favorecida no governo Lula (PT), mas prefiro um governo que primeiro priorize quem realmente precisa dele. No dia que o Brasil for um país mais igual, e não existir mais tanta pobreza (ou pelo menos esta classe for a minoria), aí sim precisaremos de um governo com uma mentalidade diferente da do PT, que faça com que o Brasil priorize o crescimento econômico e não apenas tente retira-lo do buraco.

De qualquer forma, espero que seja qual for o resultado das eleições, o país siga crescendo, e priorize a educação, que é como uma vacina pra evitar doenças futuras (violência, entre outros).
Um país com uma educação de qualidade pra todos é um país forte, pois uma nação é feita de uma sociedade e uma sociedade educada e bem informada é o que difere países desenvolvidos dos outros.

PT ou PSDB, o que importa é o Brasil.

E pra suavizar a disputa, algumas charges engraçadas que vi por aí :)


quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Jeitin minêro de falá os trem

Estou assistindo pelo youtube a minissérie A Cura, que se passa em Diamantina, e tem um linguajar bem "Minerês".

Pra quem é "de lá" e há muito não mora "lá", sabe a falta que faz ouvir o jeito de falar daquele lugar. Eu sinto muita falta, e quando vejo um filme ou uma série que se passa em Minas, já é um convite pra assistir.

Confesso que as vezes eles 'exageram' no sotaque. Mas as vezes também acertam a dose. Quando o(s) ator(es) principal(is) é(são) "de lá" então como no caso de A Cura, a coisa flui naturalmente.

Todo mundo já deve conhecer os muitos 'vocabulários de mineiro' que tem por aqui e roda de email pra email, mas resolvi unir eles aqui, depois de uma "googlada", e inclui alguns que eu não encontrei, mas que como mineira, sei que não podem faltar.

E como apenas palavras não enche a barriga, umas imagens pra doer mais o coração (de saudade) e a barriga (de fome).

Eita trem bão é Minsss, sô!


VOCABULÁRIO MINEIRO

Ao viajar pela primeira vez para Minas Gerais, caso você não conheça muitos mineiros, pode ter dificuldades em entender o palavreado e em se fazer entender.

É bom tentar se adaptar, já que nos lugares mais tradicionais, pessoas de fala difícil ou muito correta podem ser tomadas por "exibidas" (mitido). Estas são algumas dicas para que você não dê vexame.

Noções de Mineirês para "estrangeiros".

Apesar de ter fama de fala-mansa, o bom mineiro costumar "engolir" uma parte das palavras, principalmente as últimas sílabas. Por exemplo, veja a seguinte frase traduzida para o mineirês:

- Mineiro engole metade das palavras.
- Minerr engol metádaspalavra.

engol pronuncia-se como se se fosse falar goleiro, mas parando-se bruscamente antes de se pronunciar o "e".

- "Uai" é indispensável. Uai significa nada e tudo ao mesmo tempo. Tudo depende do contexto e da entonação.
"Mas comus mineir gosta de falá, uai é uai, uai...."

- Para se admirar ou aprovar alguma coisa solte um sonoro:
"Mai qui belêzz!"

- Para pedir uma confirmação pergunte: "Émêss?"
Significa: É mesmo?

- Para pedir que alguém concorde com você, dispare um: "Némêzz?"
Significa: Não é mesmo?

- Para reforçar qualquer expressão, use "Dimái da conta".
"Issé bão dimái da conta!"

- Em conversas informais, principalmente em bares, comece todas as frases por "Rapái". Com um pouco mais de entonação, pode servir para indicar uma exclamação: "Rapáááíiii !!!!".

- Use sempre "i" no lugar de "e". Exemplos:
menino = minino
especial = ispecial
eu e ela = eu i ela
vestido = vistido

- Para chamar a atenção para você mesmo, diga: "óiquió."
Significa: Olhe aqui.

- Para chamar a atenção para outra coisa, diga: "óiquió" e aponte o dedo para a coisa.

- Na falta de vocabulário específico para qualquer objeto, utilize a palavra "trem", que serve prá tudo, exceto prá definir transporte ferroviário.

- Embora se diga que mineirr chama trem de coisa, isso é só em piadas. Se você disser que vai sair prá pegar a coisa, certamente será mal interpretado. Trem é trem-de-ferro.

- "Onzz" não é número, é o meio de transporte coletivo rodoviário.
"Ói, lá vem o onzz da seis!"

- Se você não sabe onde está e nem prá onde vai, pergunte:
"Oncotô?"
Significa: Onde é que eu estou?
"Proncovô?"
Significa: Prá onde eu vou?
"Pron nóisvai?"
Significa: Prá onde nós vamos?

- Use sempre o sufixo diminutivo "in". Exemplo:
pequeno = piquininin
lugar = lugarzin
mineiro = mineirim
pouco = pôquím
coisa pequena = trenzim*

*A exceção é a palavra coisa. Coisinha pode ser interpretada como boiola, em alguns lugares.

- Se estiver com fome, peça "cafezin cum pão dji queijj".

- Prá ajudar a fazer café, primeiro pergunte:
"Pópoupó"?.
Significa: Posso por o pó [de café]?

- Se responderem "pópô", é afirmativo.Se achar pouco, ou que o café ficou ralo, pergunte:
"Pópô mapoquim dipó"?
Significa: Posso por mais um pouco de pó?

- Se você for convidado prá "tomá um cafezin laimcáss" (Tomar um cafezinho lá em casa), mas não estiver certo se poderá ir, diga simplesmente:
"Confófô eu vô."
Significa: Se der, eu irei.

- Se algo o impedir de ir, explique:
"Eu tenquifazê uns negocim hojj."

- Se não souber de alguma coisa, seja enfático, duplicando a negação: "Num sei não."

- Para avisar que você está indo para o banho, diga preguiçosamente: "Máaabaaainnnn."

- Para ofender alguém, diga: "Máabainn na soda!"
Significa: Vá tomar banho na soda! (não é refrigerante, é NaOH mêsss...)

- Para ofender mais severamente, diga: "Cêbêsta sô!"
Significa: Você é uma besta!

- Se alguém lhe pedir ajuda "pá redá uns trem", prepare-se prá fazer força. "Redá" é o mesmo que "rastá", ou tirar alguma coisa do lugar.
Exemplo:
"Júda redá ess trem quió."

- Ao terminar uma frase, conclua com a palavra "Sô"; ou "Sá" se estiver falando com uma mulher.

Outros exemplos:

DOCÊ = minerim falano "de você"
KÉDI O TREM? = o mesmo qui "cadê o negócio (algo específico que o mineiro acha mais fácil falar trem e pronto)?"
PRÉSTENÇÃO = é quano o minerim tá falano e ocê num tá ouvino.
DEU = o mêz qui "de mim" .... ex : larga deu, sô!!
DÓ = o mêz qui "pena", "compaixão" , qui dó, gentch!!!
DI VERA???? = ..... o mêz qui "de verdade"
GARRÁDU = o mêz qui "junto"....
NIMIM = o mêz qui "em mim" ....nóóo, ocê vivi garradu nimim,trem!!!....larga deu, sô!!
NÓOO = num tem nada a ver cum laço apertado não, é o mêz qui "nossa"...vem di Nossa Sinhora!
PELEJÃNU = o mêz qui tentãnu ... ó ieu tô qui tô pelejanu cum essetrem, né di hoje ...qui nó cego (agora e nó mêzz!)
NÉ??? = não é?
PINGA = o mêz qui cachaça ... é danadibão com o tutu e uns torresmim,bão tamém cum franguim cum quiabo.
TACÁ = o mêz qui "jogar" ... taquei tudo fora!!! vô tacá quejim na ambrusia.
INTORNÁ = Quando num cabe na vazia.
PÃO DE QUÊJO =Alimento fundamental na mesa minêra
TUTU = Mistura de farinha de mandioca cum feijão triturado e unstemperim lá da horta.
NNN = Gerúndio do minerêis. Ex. Brincannn, corrennn, innn, vinnn.
BELORZONTI = Capitár di Minas Gerais.
CONFÓFÔ EU VÔ = Conforme for, eu vou.
OIÓ, TÓ = Óia aí, ó, toma...
MAGRILIN = Indivíduo muito magro.
DEUSDE = desde. (Ex: Eu sou magrilin deusde que eu era rapazin!)
NIGUCIM = qualquer coisa que o minerin acha pequeno.
NÉMERMO? = minerim procurando concordância cum suas idéia.
ESPIA = nome da popular revista VEJA. (tem uns disgarradu qui fala"ispia" uai!)
KINÉM = advérbio de comparação, iguar - Ex: Ela saiu bunita kiném amãe.
ARU, ERU, IRU, ÔRU = usado nuns verbu da 3a pessoa : Ex : eles fôru lá e dançaru, beberu, agarraru umas muié déru uns bejj e adispois fugiru.
MODIDIZÊ = quando o minerin tenta isplicá, o mêzz qui "modo de dizer"
FAZUNAUM SÔ = não faça isto
ÉFAZNAUM = mineiro tentando explicar que algo é difícil ou traduzindo "Não é facil não"
ANTIONTI = 2 dias atrás
INCASQUETAR = Cismar. Ex: Cê incasquetô cumigo mezz né trem?
ZORÊIA = Burro, orelhudo. Ex: ê, mas ocê é um zorêia mezz heim?
GENDUCÉU = Expressão de espanto, como Nossa Senhora! Senhor Deus! Traduzindo seria: Gente do céu!
INTAUM TÁ INTAUM= Significa que o mineiro está de acordo com o que voce propoz, ou então ele ta tentando acabar o papo pq precisa ir embora.
TEM BASE ESTE TREM NAUM= O mineiro não gostou ou concordou com algo que aconteceu

Fontes:

domingo, 12 de setembro de 2010

911

Estranho como a gente se sente atingido quando algo acontece com países ocidentais, e menos, quando uma tragédia se dá no lado oriental do planeta. A ciência explica, é uma questão de não conseguirmos nos identificar com os povos daquela parte do globo, e com isto sofremos menos com o sofrimento deles.

Estou falando isto porque ontem completou-se 9 anos do ataque terrorista aos EUA. Muita gente diz "o ataque a Nova York", o que é extremamente incorreto e injusto. Afinal foram 4 aviões sequestrados onde 2 não tinham como alvo Nova York.

E o único avião que não teve sucesso (nos planos de seus sequestradores) é também o que menos se comenta, embora as pessoas dentro do mesmo foram sem dúvida alguns dos grandes heróis do dia.

Ontem assisti no canal holandês RTL 5 um documentário sobre a tragédia, minuto a minuto, o ponto de vista do governo americano, das torres de controle, e de todos os envolvidos (como o depoimento de alguns sobreviventes).

Assisti também o filme United 93, que conta (ainda que de forma dramatizada) o que ocorreu dentro do voo UA 93 que tinha como alvo a Casa Branca, mas acabou caindo na Pensilvânia, pois os passageiros comunicaram com suas famílias e sabiam do que estava acontecendo aquele dia e que eles não sobreviveriam, mas poderiam pelo menos evitar uma tragédia maior.

A questão é que tragédias tão grande ou maiores acontecem em outros países e nos tocam bem menos, e praticamente não nos tira o sono. Basta lembrar a queda do avião da Air France (Rio-Paris) em maio do ano passado. O caso foi noticiado por semanas não apenas no Brasil e na França mas em todo o mundo. Pouco menos de 1 mês depois, a queda de um outro avião fez ainda mais vítimas na costa africana (onde uma menina de 14 anos sobreviveu), e foi difícil acompanhar o ocorrido porque a mídia quase ignorou o fato. Afinal a maior parte das vítimas eram africanos, e o mundo ocidental não se encaixa neste perfil.

É como se a vida de um ocidental valesse por 3 ou mais de um oriental / africano. Assustador, cruel e totalmente natural no nosso subconsciente. Vai entender?

Mas voltando ao trágico 11 de setembro de 2001... eu me lembro como se fosse ontem. Morava ainda com meus sogros na Alemanha, mas já estavamos organizando nossa casa onde nos mudariamos 2 semanas depois, e nosso casamento estava a praticamente 1 mês de acontecer.

No sábado (8 de setembro), as 22 horas, aproximadamente, recebemos uma ligação da irmã do meu sogro informando que o pai dela Harry Tuin (padrasto do meu sogro) havia falecido após um ataque cardíaco.

Ele era pro Daniël como avô, e assim o tratava. Embora a relação do falecido com o meu sogro nunca foi das melhores, meu sogro herdou o sobrenome (Tuin) e mesmo que não tenha o sangue, é o único lado da família que manterá o sobrenome Tuin por mais de 2 gerações (no mínimo) já que o Gio é o único bisneto 'macho' do falecido Harry Tuin.

Eu fazia o inburgeringscursus (curso de integração / holandês) na época, e na terça, logo após chegar da escola, estava no quarto vendo tv (canal português SIC) e estava passando as imagens da primeira torre em chamas. Eu não dei muita atenção e continuei organizando as coisas no quarto, porém aquela imagem não parava de passar até que resolvi aumentar o volume pra ver o que estava acontecendo.

Na hora que aumentei o volume, e estavam explicando que um avião havia se chocado com uma das torres do WTC em Nova York, ali ao vivo, na frente dos meus olhos, outro avião voando baixo se chocava com a outra torre. Desespero na TV, eu nem me lembro se fui chamar o Daniel na hora ou alguns segundos depois. Só sei que o resto do dia ficamos olhando pra TV perplexos e aos poucos a notícia de outros aviões que cairam já nos assustava e chocava menos pois era como se fosse uma tragédia que não tem volta, e que sentíamos que poderia ainda ter um final muito pior. O início de uma guerra mundial era o que eu mais temia naquele momento.

Lembro que no dia seguinte tivemos que sair de casa durante a tarde pra ir visitar o corpo do avô do Daniel no velório (aqui velório leva uns 5 dias e você tem algumas horas por dia pra visitar o morto).

O enterro aconteceu na sexta, dia 14 de setembro. Véspera do que seria o casamento da irmã do meu sogro, mas que obviamente foi cancelado, já que o pai da noiva faleceu. Enfim, aquela semana de setembro de 2001 jamais será esquecida por seus acontecimentos a nível familiar e mundial.

Ontem lendo uma revista Istoé (de maio de 2010), falavam-se nas razões da escolha da data 11 de setembro pelos terroristas. E que tinha uma ligação com o número de emergência nos EUA (911) tendo em vista a forma como os americanos falam uma data (primeiro o mês, depois o dia).

Enfim, o mundo vai sobrevivendo a tantas tragédias (ataques terroristas, furacões, terremotos, desabamentos, acidentes aéreos, tsunamis, acidentes automobilísticos, violência urbana) e a gente infelizmente se torna menos sensível à perda humana, a medida que estas perdas se tornam cada vez mais comuns.

Não acho que o ser humano está menos humano, mas penso que nosso senso de sobrevivência é que nos torna mais aptos a viver num mundo como o atual.

domingo, 5 de setembro de 2010

Mãos à obra

Eu passei / estou passando por uma fase complicada. Não sei se tem haver com o fato de eu estar completando em 2010, dez anos de Holanda, mas às vezes tudo que mais desejaria era estar bem longe da tamancolândia.

Sei que parte desta minha fase desanimadora tem haver com o furacão que foram nossos meses de junho e julho, e com a extrema bonança que se deu em agosto, sem falar do mau tempo, uma decepção o meio/final do verão holandês. O furacão se deu pela visita do meu pai, depois nossa viagem de férias e completando a visita da minha prima e seu marido.

Foi tudo tão bom, tão agitado, tão gostoso que quando passou, acabou, e a vida real bateu na porta, foi complicado reacostumar. Ainda mais com as crianças ainda em férias e chuva todo dia.

Em junho / julho, estivemos, seja com meu pai, minha prima e o marido dela ou só nós 4, nos seguintes países: ALEMANHA, BÉLGICA, FRANÇA, ITÁLIA, CROÁCIA e ESLOVÊNIA. Sem falar nos passeios pela Holanda. Enfim, foram semanas ultra agitadas por aqui.

Mas agora que a turminha voltou às aulas, e cada dia mais a agenda deles fica apertada (aula de dança, natação, curso de pintura, brincar com amiguinhos), preciso tb ajeitar minha agenda e incluir nela coisas que me ocupem o tempo e a mente.

Se tudo der certo, esta semana começo novamente a fazer Zumba e em outubro tb inicio um curso de corte e costura pra iniciantes (semanal), além de um curso de 3 aulas de Como fazer bijouterias (com 1 aula por mês). Além disto devo fazer alguns trabalhos extras, de casa, e espero assim espantar o desanimo e mau humor.

Até porque o outono e o rigososo inverno, estão a caminho, e tenho que estar de bem com a vida até lá pra não me afogar na geladeira.

Mas, as mudanças estão a caminho. Ik heb er zin in. E isto já é um bom começo. Torçam por mim :)

Ótima semana!

bjs

sábado, 4 de setembro de 2010

Ensaiando uma re-volta

Sei que já fui e voltei e fui e voltei de novo... antes de sumir e agora... voltar.

Fica chato e repetitivo, mas cá estou ensaiando mais uma volta.

Sem grandes perspectivas, sem grande divulgação. Apenas ir escrevendo e vendo... vendo no que dá. Até onde dá. De novo.

Neste sábado incomum de sol, no verão desastroso da Holanda, estou em casa sozinha. Filhos e marido foram pra Alemanha visitar uma tia e depois no aniversário de um tio. Eu precisava relaxar, ouvir o sagrado barulho do silêncio, fazer nada e por uma tarde não ter que servir ninguém. De vez em quando é necessário a solidão :)

E foi nesta deliciosa tarde de sol e solidão (que só é deliciosa se for desejada e com final previsto) que andei relendo meu blog, e deu saudade de postar.

Quando escrevo eu me liberto dos meus fantasmas, mesmo que eu não precise necessariamente escrever sobre eles (a maioria deles é melhor deixar fora do conhecimento público mesmo).

Eu já disse isto aqui no blog... e repito: Escrever salva, liberta e relaxa. E eu estou a procura da sensação que a escrita me proporciona.

Então, oi, de novo :)