domingo, 12 de setembro de 2010

911

Estranho como a gente se sente atingido quando algo acontece com países ocidentais, e menos, quando uma tragédia se dá no lado oriental do planeta. A ciência explica, é uma questão de não conseguirmos nos identificar com os povos daquela parte do globo, e com isto sofremos menos com o sofrimento deles.

Estou falando isto porque ontem completou-se 9 anos do ataque terrorista aos EUA. Muita gente diz "o ataque a Nova York", o que é extremamente incorreto e injusto. Afinal foram 4 aviões sequestrados onde 2 não tinham como alvo Nova York.

E o único avião que não teve sucesso (nos planos de seus sequestradores) é também o que menos se comenta, embora as pessoas dentro do mesmo foram sem dúvida alguns dos grandes heróis do dia.

Ontem assisti no canal holandês RTL 5 um documentário sobre a tragédia, minuto a minuto, o ponto de vista do governo americano, das torres de controle, e de todos os envolvidos (como o depoimento de alguns sobreviventes).

Assisti também o filme United 93, que conta (ainda que de forma dramatizada) o que ocorreu dentro do voo UA 93 que tinha como alvo a Casa Branca, mas acabou caindo na Pensilvânia, pois os passageiros comunicaram com suas famílias e sabiam do que estava acontecendo aquele dia e que eles não sobreviveriam, mas poderiam pelo menos evitar uma tragédia maior.

A questão é que tragédias tão grande ou maiores acontecem em outros países e nos tocam bem menos, e praticamente não nos tira o sono. Basta lembrar a queda do avião da Air France (Rio-Paris) em maio do ano passado. O caso foi noticiado por semanas não apenas no Brasil e na França mas em todo o mundo. Pouco menos de 1 mês depois, a queda de um outro avião fez ainda mais vítimas na costa africana (onde uma menina de 14 anos sobreviveu), e foi difícil acompanhar o ocorrido porque a mídia quase ignorou o fato. Afinal a maior parte das vítimas eram africanos, e o mundo ocidental não se encaixa neste perfil.

É como se a vida de um ocidental valesse por 3 ou mais de um oriental / africano. Assustador, cruel e totalmente natural no nosso subconsciente. Vai entender?

Mas voltando ao trágico 11 de setembro de 2001... eu me lembro como se fosse ontem. Morava ainda com meus sogros na Alemanha, mas já estavamos organizando nossa casa onde nos mudariamos 2 semanas depois, e nosso casamento estava a praticamente 1 mês de acontecer.

No sábado (8 de setembro), as 22 horas, aproximadamente, recebemos uma ligação da irmã do meu sogro informando que o pai dela Harry Tuin (padrasto do meu sogro) havia falecido após um ataque cardíaco.

Ele era pro Daniël como avô, e assim o tratava. Embora a relação do falecido com o meu sogro nunca foi das melhores, meu sogro herdou o sobrenome (Tuin) e mesmo que não tenha o sangue, é o único lado da família que manterá o sobrenome Tuin por mais de 2 gerações (no mínimo) já que o Gio é o único bisneto 'macho' do falecido Harry Tuin.

Eu fazia o inburgeringscursus (curso de integração / holandês) na época, e na terça, logo após chegar da escola, estava no quarto vendo tv (canal português SIC) e estava passando as imagens da primeira torre em chamas. Eu não dei muita atenção e continuei organizando as coisas no quarto, porém aquela imagem não parava de passar até que resolvi aumentar o volume pra ver o que estava acontecendo.

Na hora que aumentei o volume, e estavam explicando que um avião havia se chocado com uma das torres do WTC em Nova York, ali ao vivo, na frente dos meus olhos, outro avião voando baixo se chocava com a outra torre. Desespero na TV, eu nem me lembro se fui chamar o Daniel na hora ou alguns segundos depois. Só sei que o resto do dia ficamos olhando pra TV perplexos e aos poucos a notícia de outros aviões que cairam já nos assustava e chocava menos pois era como se fosse uma tragédia que não tem volta, e que sentíamos que poderia ainda ter um final muito pior. O início de uma guerra mundial era o que eu mais temia naquele momento.

Lembro que no dia seguinte tivemos que sair de casa durante a tarde pra ir visitar o corpo do avô do Daniel no velório (aqui velório leva uns 5 dias e você tem algumas horas por dia pra visitar o morto).

O enterro aconteceu na sexta, dia 14 de setembro. Véspera do que seria o casamento da irmã do meu sogro, mas que obviamente foi cancelado, já que o pai da noiva faleceu. Enfim, aquela semana de setembro de 2001 jamais será esquecida por seus acontecimentos a nível familiar e mundial.

Ontem lendo uma revista Istoé (de maio de 2010), falavam-se nas razões da escolha da data 11 de setembro pelos terroristas. E que tinha uma ligação com o número de emergência nos EUA (911) tendo em vista a forma como os americanos falam uma data (primeiro o mês, depois o dia).

Enfim, o mundo vai sobrevivendo a tantas tragédias (ataques terroristas, furacões, terremotos, desabamentos, acidentes aéreos, tsunamis, acidentes automobilísticos, violência urbana) e a gente infelizmente se torna menos sensível à perda humana, a medida que estas perdas se tornam cada vez mais comuns.

Não acho que o ser humano está menos humano, mas penso que nosso senso de sobrevivência é que nos torna mais aptos a viver num mundo como o atual.

Nenhum comentário: